Servidores e entidades da saúde acusam a administração municipal de tentar privatizar o Carlos Tortelly e o Mário Monteiro após o lançamento de dois editais de seleção. Secretaria diz que Niterói tem boa experiência com esse modelo de gestão
Por Lívia Neder — Niterói
(Divulgação e créditos para Jornal O Globo 26-03-2023.
26/03/2023 04h30
Dois editais de seleção para que organizações sociais (OSs) administrem os hospitais municipais Carlos Tortelly, no Bairro de Fátima; e Mário Monteiro, em Piratininga, foram publicados pela prefeitura, ao longo da semana, gerando revolta entre servidores da saúde na cidade. As entidades profissionais, que marcaram uma manifestação na quarta, às 9h, na frente do Tortelly, acusam o município de querer privatizar as unidades e citam exemplos problemáticos de administrações de OSs, como o que ocorreu no Hospital Estadual Azevedo Lima, que o estado teve que reassumir a administração após denúncias. No início do mês, O GLOBO-Niterói mostrou que profissionais tiveram salários reduzidos e atrasos de pagamentos com a mudança de gestão.
Presidente da Associação dos Servidores da Saúde de Niterói, o médico Cesar Roberto Braga Macedo afirma que a saúde municipal vem sofrendo um processo de precarização programada há vários anos e que o sistema sofre um profundo atraso tecnológico, assistencial e de diagnóstico.
— Pacientes passam dias na Sala Vermelha, onde deveriam ficar por somente quatro horas, porque faltam leitos qualificados. A precarização programada viola o princípio constitucional da saúde como um direito humano fundamental e escancara as portas da privatização. Destrói nossos hospitais públicos municipais, impondo o atraso tecnológico, e precariza os profissionais de saúde, uma precarização total. Por fim, entregam estes hospitais para a privatização via organizações sociais, entidades frequentemente associadas com corrupção e abandono. O exemplo do Azevedo Lima está mostrando — diz Macedo.
No edital do Carlos Tortelly, a prefeitura informa que destinará R$ 230 milhões para a empresa que for selecionada atuar por 30 meses, o que dará cerca de R$ 7,6 milhões por mês. A Secretaria municipal de Saúde (SMS) diz que, hoje, o hospital recebe investimento mensal de cerca de R$ 7,5 milhões a R$ 8 milhões.